Seminário da SINTER apresenta experiências de bolsistas do programa Ciência sem Fronteiras

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eitora Roselane Neckel discursa na abertura do evento. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC

Reitora Roselane Neckel discursa na abertura do evento. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC

O estímulo à participação e ao compartilhamento de experiências do programa Ciência sem Fronteiras (CsF) mobilizou centenas de estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) a comparecer, na terça-feira, 9 de junho, ao Centro de Cultura e Eventos, para o seminário promovido pela Secretaria de Relações Internacionais (Sinter) da UFSC e organizado pela coordenadora do CsF na UFSC, Rosane Rosendo da Silva. O evento contou com a mesa-redonda “O programa Ciência sem Fronteiras e o processo de internacionalização das universidades brasileiras”, a palestra “A importância do programa Idioma sem Fronteiras (IsF) no contexto do CsF” e os depoimentos de oito ex-bolsistas.

A reitora da UFSC, Roselane Neckel, afirmou, na abertura dos trabalhos, que “os estudantes brasileiros são bem-recebidos no exterior pela criatividade e capacidade de investigar, e isso faz com que eles sejam admirados, primeiro como estudantes, e, depois, como profissionais”. Ela também lembrou que, nas décadas de 1980 e 90, “eram poucas oportunidades, com pequeno incentivo à pesquisa e à formação de professores. Podemos dizer que o Brasil, na pós-graduação, é outro país”.

eitora Roselane Neckel discursa na abertura do evento. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC

Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho, secretário de Relações Internacionais da UFSC. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC

“Enquanto alguns veem a internacionalização como ‘enfeite’, nós a vemos como estratégia”, afirmou o secretário de Relações Internacionais da UFSC, Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho, feliz com a possibilidade de os contemplados com bolsas dividirem experiências com os colegas de forma sistematizada – “para que elas não fiquem apenas guardadas na memória ou no Facebook” –, como forma de retorno para a sociedade. Ele contou que, em 2104, 732 alunos de outros países vieram para UFSC, enquanto 1.082 saíram – 857 destes pelo Ciência sem Fronteiras.

Durante a mesa-redonda, o coordenador de Relações Institucionais e Internacionais da Universidade de Campinas (Unicamp), Leandro Russovski Tessler, reclamou da “mentalidade cartorial e caipira” de boa parte das universidades brasileiras ao não validarem disciplinas cursadas durante o programa. “Se o programa das disciplinas é igual ao que temos aqui, por que o sujeito vai para fora do país?”, questionou, lembrando que o Ciência sem Fronteiras é uma boa oportunidade de “abrir a cabeça” de bolsistas, professores e gestores, que podem “aprender com os estudantes que estão voltando”.

Tessler afirmou que o CsF pode ser um indutor da modernização, no Brasil, dos currículos de Engenharia, ultrapassados desde a década de 1930. “Nós copiamos o currículo deles naquela época; eles o mudaram, e nós continuamos com o mesmo.” Ele lembrou ainda que a internacionalização deve ser mantida pelas universidades, mesmo sem o Ciência sem Fronteiras. “É um programa fundamental para a internacionalização, mas esta deve ser sustentável, com pesquisa, colaboração e intercâmbios. É uma via de duas mãos, e devemos incluir aulas em inglês em nossos currículos.”

Coordenador do programa na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Luis Filipe de Miranda Grochocki respondeu questionamentos de estudantes. “Não há o que se falar de corte orçamentário, neste ano, para o Ciência sem Fronteiras. As cartas são emitidas, e [o programa] irá ocorrer normalmente”. Ele também relatou que são feitos ajustes para aperfeiçoamento do edital, priorizando áreas estratégicas – uma das reclamações dos estudantes são as poucas oportunidades para as ciências humanas.

Relatos

Stephani foi à Alemanha. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC

Stephani foi à Alemanha. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC

As três melhores apresentações de ex-bolsistas ganharam diploma de menção honrosa: Stephani Stamboroski, João Vitor Testi Ferreira e Matheus Hosterth foram os contemplados.

Aluna de Química, Stephani escolheu a Alemanha por conta das indústrias na sua área e achou a experiência enriquecedora. “Tenho orgulho de ter aproveitado bem, espero que vocês também possam. É um aprendizado constante, que começa quando você coloca o pé no avião para viajar.” Ela fez estágio e participou de congressos internacionais da sua área.

João Vitor, estudante de Engenharia Eletrônica, viajou até a Coreia do Sul em 2012. Interessado na internet das coisas, optou pelo país mais conectado e surpreendeu-se com a infraestrutura dada aos alunos. “Mesmo em países desenvolvidos, é inimaginável o que eles fazem lá. Para uma pesquisa, recebi um computador na caixa; a biblioteca não fecha, funciona 24 horas – até sábado e domingo.” Ele se identificou com o estilo coreano de trabalhar: “Você entra com o trabalho duro e sai com o conhecimento”. João Vitor contou que colegas da universidade paravam e perguntavam de onde ele era. “Quando contava que era do Brasil, tiravam foto comigo.”

João Vitor conheceu a Coreia do Sul. Foto: Henrique Almeida/Fotógrafo da Agecom/DGC/UFSC

João Vitor conheceu a Coreia do Sul. Foto: Henrique Almeida/Fotógrafo da Agecom/DGC/UFSC

Matheus Hosterth começou sua apresentação sugerindo aos futuros participantes do CsF contatarem alguém da universidade onde vão estudar para aproveitar melhor o período. Aluno de Física, teve a sorte de escolher 12 disciplinas na universidade de Durham, Inglaterra – cinco delas foram validadas; algumas, assuntos que nunca imaginou poder estudar. Ele acredita que a parte mais importante da viagem foi fazer amizade com pessoas da própria área. “Todas têm interesses em comum e vão acabar colaborando com você no futuro.”  Em Durham, cenário dos filmes da série Harry Potter, um dos esportes mais populares é o remo: “Tentei praticar, mas não deu certo. Levei o vôlei, que não é conhecido, e convenci cinco colegas a jogar”. Além das amizades, o estudo vai render mais uma oportunidade para Matheus, já que recebeu uma oferta de doutorado em Durham e foi aprovado para uma bolsa de doutorado pelo Ciência sem Fronteiras.

Matheus: oferta de doutorado. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC

Matheus: oferta de doutorado. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC

A aluna de Engenharia de Aquicultura Ana Paula Fiori Pires Mercadante ficou em Pisa, Itália, e afirma que ser brasileiro “abre muitas portas. A gente mete a mão na massa e é bem-visto lá fora”. Ela contou que a Itália acolhe o brasileiro muito bem, mas que achou as aulas na universidade “muito formais, não há o menor espaço para brincadeiras”. Assim, Ana Paula buscou um estágio e participou de um projeto de recuperação ambiental no Mediterrâneo. “Pude fazer contato com muitos pesquisadores.”

Ana Paula Florindo, estudante de Agronomia, foi para a França e afirma que o intercâmbio forma profissionais e pessoas melhores. “Conhecer gente do mundo inteiro foi a melhor parte.” Ela afirma que os franceses são muito fechados, “mas tem muita classe”, e ficaram impressionados com o número de cursos oferecidos pela UFSC – Ana Paula apresentou a Universidade num evento na França.

Ana Paula Mercadante: estágio na Itália. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC.

Ana Paula Mercadante: estágio na Itália. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC.

A universidade de Chapel Hill, na Carolina do Norte, EUA, foi o destino inicial de Bruna Carolina Santos da Silva, aluna de Jornalismo – o estágio dela foi no museu de Artes e Design de Nova Iorque. Bruna criou um blog para contar sua experiência no local onde estudou o astro de basquete, Michael Jordan. “Respondo dúvidas no blog até hoje: se a pessoa vai poder beber nos Estados Unidos e até se deve terminar com o namorado.” A biblioteca também funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, e um “sonho” de Bruna seria ter na UFSC um jornal universitário nos moldes do de Chapel Hill: diário e feito por alunos.

Narla Shannay Stutz, que cursa Ciências Biológicas, discorreu sobre sua “aventura na Bélgica”, de agosto de 2013 a julho de 2014. Ela ficou em Liege, onde estudou Paleontologia e procurou aproveitar ao máximo o estágio voluntário num laboratório de preparação de fósseis, com “colegas competentes e atenciosos”, no Museu Real de Ciências em Bruxelas. “Foi um ano incrível.”

Narla: aventura na Bélgica. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC

Narla: aventura na Bélgica. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC

“Você é outra pessoa, e o Brasil é outro; é uma experiência transformadora.” Assim o estudante de Geografia, Ricardo Pontes, resumiu sua participação no Ciência Sem Fronteiras, em Derby, Inglaterra, onde cursou um currículo misto da sua graduação e Geologia. “O que mais me chocou foi o número reduzido de aulas e o grande período de estudos em casa – o que faz com que o aluno seja obrigado a estudar.” Além da fria Derby, Ricardo também visitou Agadir, no Marrocos, como parte de uma pesquisa.

Bruna: blog para contar experiência. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC

Bruna: blog para contar experiência. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC

“Forçado a falar inglês” desde que chegou a Toronto, Canadá, Luiz Eduardo Abatti, aluno de Biologia, morou com uma família e recomenda a experiência. Lá, pôde trabalhar numa pesquisa com células-tronco embrionárias, o que lhe rendeu um projeto de pesquisa para um trabalho de conclusão de curso. Ele conta que fez grandes amizades – “que duram até hoje, pela internet”.

Caetano Machado/Jornalista da Agecom/DGC/UFSC

Revisão: Claudio Borrelli/Revisor de Textos da Agecom/DGC/UFSC

Fotos: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC